Fala galera, aqui é Ulisses da Casa do Mochileiro em IÚNA (ES)! Estou invadindo o blog do Caminha Gente pra contar um pouquinho da minha vivência na estrada, e pra tentar explicar sob meus olhares o que é ser um mochileiro.
Todo hóspede que passa pela minha Casa, mais cedo ou mais tarde acaba se perguntando o que é ser mochileiro. Eu mesmo já ouvi essa pergunta algumas vezes e, dependendo da situação a resposta era uma ou outra.
Conversando com Márcio e Ghaidy, decidimos que era hora de escrever algo a respeito pra deixar claro pra todo mundo minha opinião sobre o assunto e, quem sabe, iluminar algumas cabecinhas mundo afora que estejam em busca de orientação sobre o assunto.
Mas antes um alerta, este não é um artigo do tipo “Dicas para você planejar e fazer o seu primeiro mochilão”, “Dicas de como viajar sozinho”, “o que é um mochilão”…Não! Nada disso!
A parada aqui vai ser no estilo John Rambo mesmo, porque foi como eu aprendi e é como eu vivo minha vida até hoje, ou seja, no modo ROOTS!
Como Tudo começou
Anos 80. Local: Serra do Caparaó. Altitude: aprox. 1.200m.
Acampado próximo a Cachoeira do Rio Brás, no município de IÚNA (ES), um garoto de aproximadamente 8 anos de idade de repente se viu em meio a mata atlântica subindo e descendo as corredeiras de um rio de águas claras e (muito) geladas, era sua primeira viagem fora do tradicional e hoje é considerado por ele seu primeiro mochilão.
Durante o dia o moleque subia e descia o rio atrás de seu velho pai, um ex-tenente do Exército Brasileiro. Os dois à época não sabiam, mas aquele acampamento teria reflexos na vida do garoto pelos próximos 30 anos.
Pra vocês terem uma idéia, esse artigo só existe porque o que aconteceu naquele final de semana ainda está vivo na cabeça do garoto, hoje com 37 anos, dono de um empreendimento turístico na mesma cidade e ainda apaixonado por natureza e viagens.
Aquele garoto, vocês já sabem, sou eu, Ulisses.
Os anos passaram, mas ainda consigo sentir o cheiro do mato molhado, o vento gelado que subia a montanha no fim de tarde. E me lembro da sensação de dormir pela primeira vez longe de casa. Eu ainda me emociono assistindo o pôr do sol no alto da Serra do Caparaó.
Mas afinal Ulisses, o que é ser Mochileiro?
Bom, pra mim, sempre foi o contato direto com a natureza.
E quando eu digo contato direto me refiro àquele primeiro acampamento que relatei acima e, em seguida, penso em tudo que vivi desde então. Afinal, não somos nada além daquilo que vivemos, certo? (Acho que tem uma música com essa letra…).
Passei os últimos 10 anos viajando, longe da minha terra, longe de casa, e quando voltei em Outubro de 2019 pra me dedicar exclusivamente ao projeto da Casa do Mochileiro, uma coisa havia mudado em relação ao meu conceito do que é ser mochileiro.
Ser mochileiro se tornou meu estilo de vida, hoje sou mochileiro independentemente de onde esteja. Ah, e vale destacar que, pra mim, ser mochileiro não se trata apenas de sair por aí com uma mochila nas costas sem dinheiro e sem destino. Isso tem outro nome!
Pra mim, o Mochileiro é aquele, ou aquela, que se integra ao lugar onde está. Você se torna parte do local, se integra aos nativos, à sua rotina, sua língua, seus costumes. Você aprende esteja onde estiver. Ser mochileiro é conhecer pessoas, ouvir atentamente o que cada um tem a dizer e aprender tudo o que for possível. Um mochileiro é um eterno aprendiz.
Evoluir é Preciso
Durante minhas viagens estive em lugares incríveis, como os Lençóis Maranhenses, a Vila de Jericoacoara, a incrível cidade de Cartagena na Colômbia, e também passei pela Europa. Foram viagens inesquecíveis, por lugares mágicos.
Conheci muitas pessoas, fiz amizades pra vida e por mais que ainda sinta vontade de voltar pra estrada, e continuar riscando da lista os lugares que eu adoraria conhecer antes de morrer, voltar pra IÚNA (ES) foi como um alívio, ou melhor, foi como descer do ônibus e sentir aquela sensação gostosa de se chegar ao destino final.
É como se a lista não importasse mais, sabe?
Informação x Conhecimento
Depois de tanto andar por aí, estou de volta. Foram 10 anos de estrada, e aquele conceito do que é ser mochileiro passou por mudanças, e não bastava mais apenas estar em contato com a natureza, eu precisava começar a contar as minhas histórias e compartilhar o que aprendi.
A casa do Mochileiro
Em 2018, esse desejo me levou à criação de um blog chamado Viagens com Histórias. O blog durou pouco, mas ali foi plantada a sementinha que se transformaria na Casa do Mochileiro. Um projeto que une as minhas experiências desde meu primeiro acampamento até os dias de hoje. Uma casa, no estilo hostel, um site pra você fazer suas reservas e, claro, um blog pra contar minhas histórias.
É hora de compartilhar as minhas histórias, e mais, é tempo de receber os mochileiros do mundo na minha casa. Abri a Casa pra tentar retribuir ao mundo toda a gentileza, o amor, a atenção e o cuidado que recebi enquanto estive na estrada.
Não há nada mais gratificante do que ser bem recebido em um lugar, por mais simples que seja, desde que seja limpo, organizado e aconchegante. Um lugar pra descansar, ouvir e contar histórias, fazer amizades, e por que não novos amores.
Com isso nasceu A Casa do Mochileiro. Lugar que, inclusive, já recebeu o casal dono aqui deste espaço (aliás, vocês voltam quando? Tô com saudades!).
Liberdade
Minha vida ao longo dos últimos 30 anos foi uma grande aventura. E como vocês sabem, aventuras tem altos e baixos. A gente passa cada perrengue, né mesmo?
O maior deles, foi perder meu companheiro do primeiro acampamento. Mas, esteja onde estiver, o Tenente está lá em cima de olho no filhão e, tenho certeza, orgulhoso de saber que seu menino se transformou em um homem feliz e determinado a fazer o bem, não importa a quem.
Ser Mochileiro, meus amigos queridos, é também se dar o direito de ser feliz, livre, e dono de seu próprio destino.
E aí, bora pra estrada?
Acasa do Mochileiro
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